São José do Rio Preto, 28 de junho de 2021 - “Ninguém para um coração sonhador.” Fundadora do Instituto As Valquírias, que assiste e desenvolve cursos e projetos com mais de mil famílias de Rio Preto, a empreendedora social Amanda Oliveira, 32 anos, nunca imaginou que chegaria tão longe. Mas revela que ainda não realizou nem metade da transformação social que pode realizar.
Nascida em uma favela em São Paulo, Mandinha, como é conhecida entre os amigos, mudou-se para Rio Preto aos seis anos. Caçula de quatro filhas, veio com a mãe, depois que essa teve uma visão – de que se levasse as filhas para o interior poderia dar a elas a esperança de um futuro melhor. “A gente não tinha nada, nossa vida era sofrida.” O pai ficara em São Paulo e continuava ajudando a família de longe.
Em Rio Preto, a mãe foi trabalhar de faxineira. O pai foi demitido e, com o acerto, comprou o primeiro imóvel da família, uma casa de barro, de R$ 3 mil, no Jardim Paraíso. No bairro, foi inscrita em um projeto mantido pelo extinto Ielar e ali a vida de Amanda começou a mudar.
Aos três meses de vida, Amanda teve parte do rosto queimado com água quente após um acidente doméstico. “Por anos tive depressão, as crianças eram maldosas comigo, me chamavam de bruxa, diziam que eu era a menina mais feia da escola, eram cruéis. Eu chorava escondida no banho para a minha mãe não ver, sofri bullying por anos. Na escola, nem saía para o recreio.”
Dentro do projeto, ela foi acolhida. “Foi ali que comecei a tomar gosto pela área social”, diz emocionada. Em alguns anos, se tornaria uma das monitoras do projeto.
Nessa época, Amanda já tinha conhecido outra paixão - a música. Tornou-se musicista e começou a dar aulas no projeto que a abrigou desde a infância. “Nossa professora, que hoje mora na Espanha, Valquíria Plaza, me colocou num palco pela primeira vez. Foi ali que percebi que a pobreza tinha saída, que ali era o meu lugar, que eu podia fazer a diferença.”
Estava ali a semente que serviu de inspiração para a criação do grupo As Valquírias, que reúne meninas da periferia, em situação de extrema pobreza, com aulas de música e percussão.
A veia empreendedora aflorou de fato em 2007, com o fechamento do Ielar. Para evitar que o projeto mantido pelo hospital fosse extinto, fundou junto com quatro amigas do projeto uma organização de sociedade civil, o Instituto As Valquírias.
Hoje, passados 14 anos desde a fundação, o instituto auxilia o poder público no combate a problemas comuns a comunidades mais vulneráveis, como o tráfico de drogas, o trabalho infantil e a prostituição.
Por ano, por meio de doações, auxílio dos governos municipal e estadual, são 98 mil refeições servidas; sete mil atendimentos mensais realizados; e o instituto ainda mantém 38 programas sociais nas áreas de Educação, Qualificação Profissional e Cidadania, tendo sempre como foco meninas e mulheres da periferia.
Também fornece aulas gratuitas de cultura, empatia, empreendedorismo, conscientização social e cursos profissionalizantes.
O amor pelo projeto é tão grande e intrínseco que Amanda literalmente mora dentro dele, junto com o marido e seu bebê de seis meses.
Desde 2013, o instituto tem o apoio da Unesco e recebe aporte financeiro da marca Carolina Herrera por trabalhar o empoderamento feminino. “Pelo instituto, é possível levar a crianças e mulheres de baixa renda educação e conhecimento sobre seus direitos, uma ferramenta poderosa de combate à exploração sexual e que pode mudar a realidade dessa parcela da população”, diz Amanda.
Gerando cidadãos
O Instituto As Valquírias também integra a rede Gerando Falcões, criada pelo empreendedor social Eduardo Lyra, que como Amanda Oliveira é nascido e criado em uma favela de São Paulo e tem como objetivo incentivar jovens da periferia a mudar sua realidade, lutando por um futuro melhor.
“Quando o Edu conheceu o nosso trabalho, despertamos. Sempre executamos um trabalho brilhante, batendo todas as métricas da rede. Esse destaque foi o motivo de Rio Preto ter sido escolhida para integrar um projeto piloto, o Favela 3D”, conta Amanda.
O Favela 3D - Digna, Digital e Desenvolvida, ou Favela Inteligente, visa à urbanização da favela, com capacitação profissional e condições de cidadania para seus moradores. “Como já trabalhávamos com a favela da Vila Itália aqui em Rio Preto, que hoje tem mais de 240 barracos, 199 crianças e 638 pessoas vivendo em situação de extrema pobreza, o local foi selecionado para integrar o projeto capitaneado pela Gerando Falcões”, diz.
Amanda afirma que já conseguiu garantir os R$ 60 milhões necessários junto à iniciativa privada para viabilizar o projeto. A Prefeitura de Rio Preto é parceira nessa iniciativa e já se comprometeu a regularizar a área e realizar obras de infraestrutura, como asfalto e saneamento básico. “Não vamos apenas entregar uma casa para cada família. Eles terão suporte durante um ano e acesso garantido a emprego, renda e educação, para que possam viver com autonomia.”
Disney em Rio Preto
Sobre o futuro, Amanda Oliveira revela ter ainda o que chama de “sonho grande”: construir a “Disney de Rio Preto”, voltada para a periferia, com direito a castelo e casa de espetáculos. “Quero ver nos olhos das crianças pobres a mesma emoção das crianças que têm dinheiro quando chegam à Disney. Quero democratizar o acesso à ‘Disney’.”
A ideia é usar o próprio bosque do instituto como espaço para a materialização deste sonho. De prático, além das pesquisas que ela e sua equipe têm realizado, já agendou viagem para a Disney, para o início de 2022. Vai conhecer de perto a realidade que pretende trazer para Rio Preto.
“A Disney tem o poder de quebrar paradigmas. Queremos mudar a referência dessas crianças, mostrar para elas que acessar coisas extraordinárias é possível para todos. Quero vê-las mudar de vida como a minha foi mudada ao subir em um palco pela primeira vez, quero fazer dessas crianças protagonistas de suas vidas, como eu me tornei”, conclui.
A luz entra pela ferida
Está previsto para outubro o lançamento do primeiro livro de Amanda Oliveira, “A luz entra pela ferida”, pela Editora Gente, com distribuição nacional. “Trago ali minha história, como a ferida que marcou minha pele e me deixou anos depressiva, mas também me fez ter forças e garra para seguir em frente, lutando pelo que acredito”, explica a empreendedora.
Shopping das Valquírias
Ainda neste ano, deve ser inaugurado o Shopping das Valquírias, que trará roupas de segunda e terceira mão a preços acessíveis para mulheres. Serão comercializados no espaço também diversos itens, como bolsas e sapatos, todos produzidos por pessoas atendidas pelo projeto. “Foi tudo pensado para as mulheres de favela e comunidade poderem dizer 'estou indo ao shopping'. Teremos tudo preparado para recebê-las”, diz Amanda Oliveira.
Fotos: Elton Rodrigues
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